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Área destinada à oleaginosa deve chegar a quase 40 milhões de hectares

Produtores de soja já se preparam para a semeadura da safra 2021/2022. Mais uma vez, a perspectiva é de que o Brasil bata um recorde histórico de área plantada. Segundo a consultoria Safras & Mercado, a área destinada ao cultivo de soja deve chegar a quase 40 milhões de hectares, 2,3% maior que em 2019/2020.
Com isso, o Brasil tem potencial para colher mais de 142 milhões de toneladas de soja, volume 3,7% maior que o recorde da safra anterior, de 137 milhões de toneladas.

Claro que, para chegar a esse potencial, o produtor deve se atentar ao principal insumo: as sementes. São elas que podem garantir a arrancada necessária para que a lavoura tenha alta produtividade.

O termo “insumo”, aliás, não é considerado o ideal para definir a importância do papel da semente na produção, segundo o pesquisador especialista da Embrapa Soja, José de Barros França Neto:

“Muita gente considera a semente como um insumo, igual o inseticida ou fungicida. Eu a considero como matéria-prima, porque é a partir dela que se inicia o processo de produção. Se começar com uma matéria-prima de baixa qualidade, terá problemas no processo de produção. Se tiver uma semeadura adequada, com semente de qualidade, terá um bom alicerce.”

O especialista explica que o primeiro e mais importante passo na hora de adquirir sementes é buscar um sementeiro idôneo, que produz semente oficial, certificada, regulamentada por lei, e seguindo todos os padrões exigidos: de qualidade fisiológica, sanitária, genética e física.

Qualidade Fisiológica

“Na qualidade fisiológica, chamamos a atenção para o vigor e a germinação”, diz. Ou seja, o sojicultor deve procurar sempre uma semente com alta germinação e alto índice de vigor, que vai emergir no campo mesmo em condição de estresse climático e até de possíveis erros na operação de semeadura, como por exemplo a profundidade da semente.

 

“Uma semente de alto vigor pode romper uma camada de compactação superficial. Essa semente aguenta até um estresse devido à presença de fungos de solo, por exemplo”, afirma França Neto.

 

O pesquisador comenta que as vantagens de se apostar em uma semente de qualidade, com alto índice de vigor, se mostra fundamental justamente em situações de estresse, como a vivida na safra encerrada em março (2020/2021). Além de garantir o estande populacional adequado (quantidade de plantas que ocupam as linhas de semeadura com o distanciamento correto), garante alto desempenho agronômico.

 

Estudos da Embrapa Soja mostraram que sementes com alto índice de vigor trazem ao produtor ganhos médios entre 5% e 15% de produtividade.

Um sistema radicular mais robusto ajuda na situação de seca, quando a planta buscará água e nutrientes em um perfil mais profundo em comparação a uma planta que vem de semente não vigorosa. A parte aérea dela também vai ser mais robusta, vai produzir mais folhas, irá aproveitar melhor a fotossíntese, terá maior número de vagens, de sementes e, consequentemente, a planta será mais produtiva

explica França Neto

Sanidade

O segundo pilar de uma semente de alta qualidade é a sanidade. França Júnior afirma que, ao comprar uma semente certificada, o produtor terá a garantia de que não estará levando doenças para a lavoura.

 

Elas podem ser virais, transmitidas por fungos, bactérias, nematóides, enfim, sem padrões de segurança. Além disso, pode ter certeza de que não está levando junto sementes de plantas daninhas, muitas vezes misturadas em um lote. Isso é um problema sério”, garante.

Qualidade genética e física

O terceiro pilar é a qualidade genética, independentemente se a cultivar é convencional ou se possui transgenia. Com a semente certificada, o produtor terá a segurança de que aquela cultivar não está misturada com outras de características diferentes, por exemplo.

 

A qualidade física é o quarto pilar indicado pelo pesquisador. “Ele precisa se certificar de que não está comprando resíduos com impurezas, parte de insetos ou torrões de terra, e de que a semente está dentro dos padrões de pureza”, diz ele.

Germinação X Vigor

No Brasil, há a exigência de que os sementeiros de soja garantam pelo menos 80% de germinação das sementes, mas não há qualquer regra ou norma sobre o vigor necessário, que segundo o pesquisador é mais importante e acaba elevando ou prejudicando a germinação.

A Embrapa tem um manual onde classificamos as sementes em baixo, médio ou alto vigor, mas não há padrões oficiais. Pode ser mais importante você levar em consideração o fator vigor, do que a germinação. Se comprar uma semente com alta germinação, mas com o vigor em 70%, não é um lote legal para usar. Eu acredito que ainda vão muitos anos para o Ministério implementar um padrão de vigor

afirma o pesquisador da Embrapa

França Júnior destaca ainda que o padrão atual de germinação também não é o mais adequado e muitas sementeiras já trabalham com índices maiores, como um diferencial de seus produtos.

 

“A gente sugere que não se comercializem sementes com menos de 85% de germinação. Já até tentamos levar isso para o Ministério e associações estaduais, mas não adiantou. O pessoal tem receio de tentar melhorar o padrão e dar prejuízo aos produtores. Eu não vejo problema em passar de 80% para 85% de germinação e a prova está no Mato Grosso, único estado a adotar essa mudança”, confirma.

 

A Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat) confirmou que inicialmente sugeriu aos produtores de sementes de soja a apostar em um teor mais elevado de germinação, mas que hoje é o mercado que exige isso.

Já temos esse alinhamento faz alguns anos. Se o lote de sementes não atingir os 85% germinação, ele não comercializa como sementes, vende como grão. E nunca mais tivemos sementes abaixo disso sendo negociadas no mercado, o produtor sabe que isso é um diferencial

Jefferson André Aroni
diretor executivo da entidade

A grande maioria dos produtores já nem quer os 85%, preferem de 90% para cima. Para nós, sementeiros, dá para atender essas exigências, mas precisamos plantar áreas maiores, garantindo assim mais sementes para seleção

Nelson Croda
sementeiro da Sementes Máxima

Escolha de Cultivar

Após entender quais as qualidades mínimas que a semente de soja deve ter, o produtor precisa identificar qual o tipo de cultivar mais adequado para sua área. A primeira escolha é por variedades adaptadas à região onde será plantada, o que já coloca em xeque trazer a matéria-prima de outros estados, pois não é certeza que aquela semente atende às características regionais de clima, solo e altitude, comenta França Júnior.

 

Outro ponto importante é a característica de sanidade da lavoura, ou seja, quais as doenças e pragas mais recorrentes ali, para apostar em cultivares com resistência ou tolerância a elas. E neste caso, é recomendado usar mais de uma variedade.

 

Dependendo da região, por exemplo, o produtor pode ter diferentes tipos de nematoides, que limitam a produção. Sabendo desse histórico, pode-se optar por variedades tolerantes a diferentes tipos de nematoides. Mas também pode-se fazer a opção por outra variedade que tenha resistência a lagartas, que pode ser um problema secundário para ele”, afirma o pesquisador.

 

O ciclo da planta é o terceiro fator de atenção. Muitas vezes, o produtor acaba optando por uma variedade precoce, de olho no plantio da segunda safra. Mas, para o pesquisador, além disso, ele pode usar essa ferramenta para escalonar a área de plantio.

O ciclo é muito importante. Dependendo de onde o produtor está, a tendência é encurtar o ciclo e plantar mais cedo pensando em milho safrinha. Mas pensar no escalonamento de semeadura é fundamental. Primeiro, para reduzir os riscos, e segundo, porque se você planta uma área grande é preciso diluir a semeadura de acordo com a estrutura que você tem, para não perder a qualidade da colheita

comenta o pesquisador da Embrapa

Por fim, França Júnior lembra que é essencial que o produtor tenha um engenheiro agrônomo de confiança que o ajude na análise da sua área e a fazer as melhores escolhas, além de guardar os históricos de manejo da propriedade, garantindo assim resultados mais assertivos.

FONTE: site Basf