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Capim-amargoso: características, casos de resistência, danos e estratégias de manejo dessa planta daninha

O capim-amargoso (Digitaria insularis) é uma planta daninha pertencente à família Poaceae. Trata-se de uma espécie perene que cresce de forma ereta, atingindo alturas que variam entre 50 e 100 cm, formando pequenas touceiras. Suas folhas são ligeiramente ásperas e têm um comprimento que varia de 15 a 25 cm, a reprodução ocorre através de duas formas principais, pela dispersão de suas semente e por meio de pequenos rizomas que crescem a partir dela (Lorenzi, 2014).

De acordo com Albrecht & Albrecht (2021), a inflorescência do capim amargoso é do tipo panícula ramificada e terminal, seu fruto é do tipo cariopse e serve como unidade de dispersão, juntamente com a fragmentação do rizoma, a planta é facilmente identificada no campo devido à sua inflorescência ampla, pendente e de coloração branco-prateada quando madura.

O capim amargoso, conforme destacam Machado et al. (2008), é uma espécie nativa de regiões tropicais e subtropicais, frequentemente encontrada em pastagens, pomares, beira de estradas e terrenos baldios. Apresentando a capacidade de emergir e se desenvolver praticamente o ano inteiro em diferentes condições climáticas. Por se tratar de uma planta do tipo C4, aproveita melhor os recursos, competindo por água, luz e nutrientes disponíveis, além de possuir grande agressividade pela elevada dispersão de sementes através do vento e grande poder germinativo das sementes, o que a torna uma espécie com alta competitividade, e difícil controle.

De acordo com Oreja et al. (2017), temperaturas constantes de 25° C são favoráveis para que ocorra a germinação das sementes. No que diz respeito à profundidade, Zambão et al. (2020) afirmam que as sementes de capim-amargoso têm a capacidade de emergir de até 7,6 cm de profundidade no solo. Durante um único ciclo, essa planta tem potencial de produzir até 75 mil sementes (Albrecht & Albrecht, 2019).

O primeiro caso de resistência de D. insularis, foi registrado no Paraguai em 2005. Essa resistência foi observada nas culturas do milho, algodão, soja e girassol ao ingrediente ativo Glifosato, o qual atua por meio do mecanismo de ação conhecido como Inibibidores da Enolpiruvil Shiquimato Fosfato Sintase (EPSP’s).

No Brasil, o primeiro caso de resistência ocorreu em 2008, nas culturas da soja e milho aos Inibidores da EPSP’s. Em 2016, surgiu a confirmação da resistência aos Inibidores da Acetil Coenzima A Carboxilase (ACCase), na cultura da soja, resistentes aos ingredientes ativos fenoxaprop-etila e haloxifop-metil.

Em 2020, ocorreu o primeiro caso de resistência múltipla a dois mecanismos de ação, com resistência aos inibidores da EPSP’S e Inibidores da ACCase na cultura da soja. No Brasil a resistência múltipla aos ingredientes ativos fenoxaprop-etila, glifosato e haloxifop-metil. Enquanto no Paraguai, foi confirmada a resistência aos ingredientes ativos cletodim, glifosato e haloxifop-metil (Heap, 2023).

Pesquisas realizadas por Gazziero et al. (2012), apontam que a produtividade da soja é inversamente proporcional a infestação de capim-amargoso na lavoura, os resultados obtidos mostram redução de 44% na produtividade da soja em competição com a planta daninha.

Fonte: Gazziero et al. (2012).

O monitoramento das áreas de cultivo ao longo do ano, é uma tarefa de extrema importância. Uma vez estabelecida com a formação de rizomas, a dificuldade de controle dessa espécie se torna ainda mais desafiador (Sambatti et al., 2015). Além disso, o aumento da população de D. insularis pode causar sérios prejuízos na produtividade, além de aumentar o custo de produção, com a implementação de medidas de manejo para conter essa espécie.

O capim-amargoso é uma planta de alta complexidade, considerando sua biologia e aumento de casos de resistência, é importante implementar práticas de manejo integrado de plantas daninhas, o manejo com herbicida deve preconizar pela rotação com diferentes mecanismos de ação, bem como o momento adequado de controle para que não afete a produtividade. De acordo com HRAC – BR (2022), uso de herbicidas pré-emergentes é fundamental. Dado que essa espécie forma touceiras e se propaga através de rizomas, o controle em pós emergência deve ser realizado em estádios iniciais de desenvolvimento da invasora, de preferência, quando ela possui até três perfilhos. Nesse contexto, recomenda-se o uso de graminicidas sistêmicos e alternando com herbicidas de contato sequencial.

O melhor período para controle de D. insularis, conforme destacam Machado et al. (2006), é até os 35 dias após a emergência (DAE), quando os rizomas ainda não se desenvolveram. Além disso, devido ao crescimento lento até 45 DAE, existe a possibilidade de realizar o controle cultural satisfatório por meio do cultivo de culturas que rapidamente cobrem o solo.

Outras estratégias de manejo recomendadas pelo HRAC – BR para o manejo de resistência de plantas daninhas, incluem começar a semeadura no limpo, evitar o pousio e investir em cobertura de solo. É importante utilizar os herbicidas pré-emergentes, sempre respeitando a dose indicada e utilizando diferentes mecanismos de ação. Além disso, é fundamental adquirir sementes certificadas, realizar o plantio na época recomendada, implementar o sistema de rotação de culturas, realizar a limpeza de equipamentos e máquinas e não menos importante, o uso de tecnologias de aplicação e formulações em benefício da eficiência.

 

Fonte: Mais Soja