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Como controlar tripes nas lavouras de milho e soja

Lavoura de milho e soja, uma ao lado da outra
As tripes compreendem mais de 290 gêneros e duas mil espécies. São típicas de períodos de estiagem e apresentam incidência crescente nas principais regiões produtoras do país devido às condições climáticas dos últimos anos. Normalmente ocorrem da emergência até V7-V8. Podem causar danos diretos e indiretos às culturas. Na cultura da soja, as perdas podem chegar a 10 sacas por ha.

Descrição e biologia do inseto

A família Thripidae (Sub-Ordem: Terebrantia) compreende o maior número de espécies de importância agrícola, como a Caliothrips phaseoli, C. brasiliensis, Frankliniella schultzei e F. occidentalis. As tripes são pequenos insetos, de 0,5 a 1,4 mm. Possuem aparelho bucal do tipo picador-raspador, composto por três estiletes que se deslocam em um conjunto chamado cone bucal. Esse aparelho raspa a epiderme, suga a seiva e causa posterior morte do tecido.
Quando adultas, apresentam coloração escura (preta, cinza, marrom) e quatro asas membranosas longas e estreitas, com bordas franjadas, mas existem espécies ápteras. Possuem um ciclo de vida de 15 a 28 dias (Figura 1). Sua reprodução ocorre partenogênica e sexuadamente, sendo a maioria das espécies bissexuais. A oviposição ocorre de forma endofítica, ou seja, no interior das folhas, sendo que uma fêmea possui capacidade de ovipositar entre 100 a 200 ovos. As ninfas ao eclodirem assemelham-se a adultos, atingindo a maturidade sexual após o terceiro instar.
Figura 1: Ciclo de vida da tripes. Fonte: https://gowan.com.br/tripespesadelo tomaticultor brasileiro/
São polífagos, ocorrendo em várias culturas de importância agrícola, como hortaliças, feijão, fumo, milho e soja. Atacando principalmente as folhas, preferindo a face inferior e em meio as folhas ainda não totalmente abertas. Podem causar danos diretos através da raspagem do tecido vegetal e sucção da seiva ou indiretos, através da transmissão de doenças, principalmente viroses como o vírus da “queima-do-broto-da-soja” ou “tobacco streak virus” (TSV).
Várias espécies de plantas podem servir de hospedeira a tripes, dentre estas algumas importantes plantas daninhas como: Buva (Conyza spp.) que geralmente multiplica a espécie Caliothrips sp., Caruru (Amaranthus spp.), Cravorana (Ambrosia artemisiifolia) que é hospedeira do vírus da “queima-do-broto-da-soja” (TSV), entre outras.

Principais espécies

• Caliothrips phaseoli e C. braziliensis: insetos com cerca de 1,0 mm de comprimento; as formas jovens são branco-amareladas e ápteras; os adultos apresentam asas franjadas, escuras, com duas manchas claras nas asas anteriores.
• Frankliniella schultzei: Corpo com coloração variável; as formas castanhas possuem apenas o pronoto e pernas extensivamente amarelos, assim como a antena castanha com os segmentos III–V amarelos na base; as formas amarelas geralmente possuem marcas castanhas sutis nos tergitos abdominais e apenas os segmentos antenais VI–VIII castanhos.
• Frankliniella occidentalis: Coloração do corpo muito variável, na maioria das vezes amarelada com distintas manchas nos tergitos abdominais. No entanto, formas completamente escuras são registradas para este tripes. As asas anteriores são levemente escurecidas e as cerdas da cabeça e do pronoto bastante desenvolvidas.

Sintomas e danos da tripes

Em soja:
Frankliniella occidentalis é observada mais nas áreas de abertura de plantio ou regiões de alta altitude. Está presente em folíolos ainda fechados, raspando-os e causando encarquilhamento das folhas com leve amarelamento. O Sintoma pode ser confundido com fito herbicida hormonal (Imagem 2).
Podendo ocorrer entre V2 a V7. Por sua vez, o sintoma do ataque da Frankliniella schultzei é o prateamento da folha, próximo às nervuras das folhas. É atraída por pólen, o consumindo e causando a queda da pétala. Estas espécies são importantes vetores na transmissão da virose da “queima-do-ponteiro” (TSV), que provoca a queima do broto apical da planta, normalmente associado à curvatura para baixo, redução dos entrenós e o porte da planta, com superbrotamento e deixando-as improdutivas (Imagem 3). A Caliothrips sp. também causa o prateamento aleatório na folha (Imagem 4) e geralmente presente nas folhas que estão abrindo, deixando um aspecto de encarquilhada. Normalmente, ocorre mais na porção inferior da planta, em anos mais secos os danos são mais intensos e pode levar a queda das folhas. As perdas decorrentes de danos diretos à cultura podem variar de 10 a 25% (Gumandi e Perotti, 2009), chegando até 10 sacos de soja por ha (Farias, arquivo pessoal). No entanto, há registros de lavouras com sua produtividade totalmente comprometida devido à incidência do vírus da “queima-do-ponteiro”, transmitido pela tripes (Hoffmann-campo et al., 2012).
Imagem 2: Sintoma de tripes na folha da soja. Foto: Fernando Zanatta
Imagem 3: Virose da “queima do broto da soja” ou “ tobacco streak vírus” (TSV). Fotos: Fernando Zanatta e Embrapa
Imagem 4: Prateamento na fase inferior da folha de soja. Foto: José Madaloz
No milho:
Normalmente ocorrem da emergência até V7-V8. Apesar de a literatura relatar-se maior ocorrência em períodos de estiagem, quando prevalecem condições de baixa umidade e temperatura elevada após a emergência das plantas, nesta safra com chuvas frequentes observam-se elevadas populações de tripes. Alojam-se entre as folhas de milho ainda enroladas (cartucho), mas possuem a capacidade de voar e se movimentar entre plantas (dispersão de até 100 m). Os principais sintomas são causados em razão da raspagem do tecido para se alimentar do suco extravasado, formando manchas de coloração esbranquiçada na superfície da folha que se tornam bronzeadas em pouco tempo. As bordas da folha se enrolam, pela perda da integridade do tecido (Imagem 4). Os sintomas podem ser confundidos com fitotoxidez de químicos ou fertilizantes de aplicação aérea. As injúrias podem tornar-se porta de entrada para patógenos, ocasionando doenças mais sérias.
Imagem 5: Concentração de tripes na folha do milho (A); sintoma de encarquilhamento das bordas da folha (B); lesão no tecido foliar (C); visual de folhas do milho com dano de tripes após abrirem (D). Fotos: José Madaloz

Estratégias de manejo

• Monitoramento e identificação da espécie, atentar-se a presença no baixeiro das plantas de soja e entre as folhas do cartucho do milho;
• Manejo de plantas daninhas hospedeiras, exemplo Cravorana, hospedeira do vírus da “queima-do-broto-da-soja” e a buva onde se multiplicam;
• Uso de tratamento de sementes industrial com inseticida, auxiliando o controle no início do estabelecimento da cultura (Imagem 5);
• Aplicação de inseticidas foliares no início de infestação, de preferência com atividade translaminar para chegar ao inseto;
• Aplicação sequencial (5 a 7 dias), se necessário.
Em anos de clima mais seco e quente, o controle na parte aérea, mostra-se mais difícil e oneroso, devido à dificuldade de atingir o inseto e a rápida reinfestação da praga após as pulverizações foliares. Desta forma, a escolha correta do bico de pulverização, volume de calda, horário de aplicação, a utilização de inseticidas com diferentes modos de ação, aumentarão a eficiência do controle.
Imagem 5: Controle de tripes através do uso de tratamento de sementes com inseticida Clotianidina. Foto: José Madaloz