Notícia

Corós na cultura do trigo

A cultura do trigo (Triticum aestivum), é uma das principais culturas de inverno na região Sul do Brasil, responsável por gerar renda e contribuir para a manutenção do sistema plantio direto. Contudo, o trigo esta suscetível ao ataque de pragas durante todo seu ciclo de desenvolvimento, essas pragas podem provocar prejuízos à cultura.  Os corós representam uma das principais pragas que acometem a cultura do trigo, sendo duas espécies predominantes, o coró das pastagens (Diloboderus abderus) e o coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga) (Coleoptera: Melononthidae). Cunha & Caierão (2023), destacam que somente as larvas, de natureza polífaga, têm a capacidade de causar danos à cultura.

Os corós, conforme destacam Pereira & Salvadori (2021), são larvas de solo que apresentam o corpo em forma de C, com coloração esbranquiçada, mas a cabeça e os três pares de pernas mais escuros. Trata-se de espécies nativas, cuja importância econômica ganhou destaque a partir dos anos 80. A espécie Diloboderus abderus vem sendo reconhecida como praga do trigo desde a década de 1950, enquanto Phyllophaga triticophaga é mais recente, datando 1998.

O coró-das-pastagens, conforme Salvadori & Pereira (2006), é uma espécie que apresenta uma geração anual e é polífaga, ou seja, se alimenta de uma ampla gama de alimentos. Os ambientes que favorecem a sua ocorrência, são solos não revolvidos e a presença de palhada, suas larvas passam por três instares de crescimento e podem ser encontradas dentro de galerias, a profundidades que variam de 10 a 20 cm. Apesar dos danos ocasionados, os autores destacam que essa espécie proporciona benefícios como o aumento da capacidade do solo em absorver água, através das galerias que abrem, além de contribuir para aprimorar as características físicas, químicas e biológicas do solo, ao incorporar e decompor de restos culturais. No entanto, antes que isso ocorra, causa danos expressivos à cultura.

Figura 1. Larva de coró-das-pastagens (Diloboderus abderus).

O coró-do-trigo, conforme Salvadori & Pereira (2006), também é uma espécie polífaga, entretanto, distingue-se por possuir hábitos rizófagos. Essa espécie completa seu ciclo de vida em aproximadamente dois anos. Sua distribuição inclui ambientes com preparo do solo sob sistema convencional, bem como solos sob plantio direto, as larvas são favorecidas por solos não compactados e/ou desestruturados, e vivem muito próximas a superfície do solo, geralmente são encontradas nos primeiros 10 cm de profundidade, podendo aprofundar-se durante os períodos de temperaturas amenas.

Figura 2. Larva de coró-do-trigo (Phyllophaga triticophaga).

De maneira geral, Salvadori & Pereira (2021) destacam que os maiores danos ocorrem devido à diminuição da população de plantas nas fases de emergência e de afilhamento. Após essas fases iniciais, é comum que as plantas atacadas não morram, no entanto, podem ocorrer danos como a morte de afilhos, redução no crescimento e redução na capacidade de produção.

Salvadori (2000), afirma que os danos pelo coró-do-trigo são causados exclusivamente pelas larvas de 3° instar, as quais alimentam-se principalmente das raízes, mas também consomem sementes e a parte aérea de pequenas plantas, puxando-as para dentro do solo. Os danos decorrem da mortalidade de plântulas e da redução da capacidade produtiva de plantas sobreviventes.  A seguir, podemos observar o ciclo de vida e atividade do coró-das-pastagens e do coró-do-trigo no trigo e demais culturas agrícolas em que ocorrem, e qual período podem causar dano à essas culturas.

Figura 3. Ciclo de vida e atividade de Diloboderus abderus (coró-das-pastagens) e Phyllophaga triticophaga (coró-do-trigo) e relação com o ciclo das culturas de trigo, soja e milho no Rio Grande do Sul.

A detecção da presença do coró-do-trigo na lavoura, como destaca Salvadori (2000), manifesta-se inicialmente por meio de sintomas como murchamento, secamento, morte e o desaparecimento de plântulas. Posteriormente, podem ocorrer morte de afilhos, secamento de folhas, redução do porte das plantas, redução de tamanho e/ou não enchimento de espiga, além disso, a falta de sistema radicular pode levar ao tombamento das plantas. De acordo com Cunha & Caierão (2023), normalmente a infestação de corós surge em manchas na lavoura, variando sua ocorrência de um ano para outro. Isso se deve à ocorrência da uma mortalidade natural, ocasionada por inimigos naturais, como entomopatógenos, e pelas condições extremas de umidade do solo.

Conforme Pereira et al. (2010), quanto maior a população de corós presentes no solo, maior é o potencial de danos e maior a dificuldade de controle. Quando as densidades ultrapassam os limites estabelecidos como níveis de ação ou controle, isso resulta na necessidade de recorrer a doses mais elevadas de inseticidas. Esse cenário, por sua vez, reduz a probabilidade de um controle bem-sucedido e impacta no retorno econômico para a prática de controle. Os autores destacam que o controle de infestações pode, em determinados casos, ser direcionado para as áreas específicas onde se encontram as manchas de ataque/reboleiras.  Densidades médias de 10 corós-pragas m2 geralmente comprometem o rendimento normal de cereais de inverno. Níveis populacionais entre 25 e 30 corós m2 podem ocasionar danos severos, com reduções no rendimento de grãos superiores a 50%, podendo chegar até a 100%, na cultura de trigo (Salvadori & Pereira, 2006).

De acordo com Cunha & Caierão (2023), estratégias de manejo como a rotação de culturas e manejo de resíduos que reduzam a disponibilidade de palhada no solo durante o período de oviposição desfavorecem a espécies D. abderus. Além dessas medidas, é fundamental realizar o monitoramento das áreas de cultivo antes da semeadura, a fim de identificar a possível presença de corós na área de cultivo. A partir dos resultados obtidos e para detectar a presença da praga, assim, de acordo com o resultado e a tomada de decisão, pode-se optar pelo controle químico.

De acordo com as orientações de Pereira et al. (2010), devido ao ciclo longo de vida desses insetos, é preciso adotar um manejo que priorize o monitoramento regular das áreas, tanto durante o inverno quanto no verão. Isso possibilita monitorar o surgimento e a progressão das infestações, bem como identificar e quantificar as espécies presentes. O monitoramento deve ser contínuo ao longo do ano, abrangendo a fase pré-semeadura, o desenvolvimento da cultura e o período após a colheita, isso envolve a observação de sintomas nas plantas, a detecção de quedas de produtividade e a abertura de trincheiras para análise. Essa estratégia possibilita o mapeamento preciso das infestações e a elaboração de um histórico da área de cultivo, que por sua vez, facilita o planejamento da lavoura e as tomadas de decisões relacionadas ao manejo.

Outra estratégia de manejo para conter as infestações de corós nas lavouras de trigo, é a adoção de métodos preventivos, incluindo o tratamento de sementes com inseticidas. A seguir, podemos observar os inseticidas utilizados no controle de corós em trigo, registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária.

Fonte: Mais Soja