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Ferrugem-asiática da soja: consórcio aponta incremento de casos na região Sul

A ferrugem-asiática, cujo agente etiológico é o fungo Phakopsora pachyrhizi, é considerada a principal doença que incide sobre a cultura da soja, causando significativas perdas de produção. A doença foi relatada pela primeira vez no Brasil em 2001, e atualmente é considerada a mais severa da cultura, podendo provocar perdas de até 90% na produtividade (Godoy et al., 2016).

De acordo com Godoy et al. (2023), plantas severamente infectadas apresentam desfolha precoce, comprometendo a formação, enchimento de vagens e o peso final de grãos. Além disso, quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, consequentemente, maior a perda do rendimento e da qualidade, podendo ainda, provocar a incidência de grãos verdes (Henning et al., 2014). Os danos causados pela ferrugem em soja variam de acordo com o momento em que a infecção ocorre, às condições climáticas propícias para infecção, à resistência ou tolerância das plantas, e ao ciclo da cultivar utilizada.

Conforme destacam Pelin et al. (2020), a planta pode ser afetada em qualquer órgão acima do solo, principalmente as folhas e, em qualquer estádio fenológico, sendo mais comum próximo ao florescimento. As lesões resultantes da infecção nas folhas, reduzem a capacidade fotossintética da planta, reduzindo significativamente a capacidade da planta em gerar energia essencial para seu desenvolvimento. O processo de infecção pelo fungo está relacionado à presença de água livre na superfície foliar, requerendo um período mínimo de seis horas, sendo que a infecção atinge seu máximo potencial com 10 a 12 horas de molhamento foliar. Temperaturas entre 18° e 26,5° C proporcionam condições favoráveis para que ocorra o processo de infecção do fungo (Henning et al., 2014).

Com as condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença, principalmente devido aos impactos do fenômeno El Niño, que provoca grandes volumes de chuvas na região Sul do país, o monitoramento e manejo da ferrugem-asiática na cultura da soja devem ser intensificados.

De acordo com atualizações do Consórcio Antiferrugem 2023), foram confirmados casos de ferrugem asiática no estado do Rio Grande do Sul na safra 2023/2024. O primeiro caso foi identificado no município de Santa Rosa, em área de soja em estádio R4, outro caso também foi confirmado em soja em estádio Rno mesmo município. No município de Júlio de Castilhos, foi confirmado um caso afetando a soja em estádio fenológico R1, enquanto em Cruz Alta, a ferrugem foi identificada incidindo sobre a soja em estádio vegetativo V4. Ambos os registros ocorreram no mês de dezembro, ressaltando a importância de medidas preventivas e estratégias de manejo para conter a propagação da doença.

Figura 1. Casos de ocorrência de ferrugem em soja, presença de esporos e ferrugem-asiática em soja voluntária (07/12/2023).

Os sintomas da ferrugem asiática podem se manifestar em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. Os primeiros sintomas são caracterizados por pequenos pontos, com no máximo 1 mm de diâmetro, que apresentam coloração mais escura em comparação ao tecido foliar. Esses pontos apresentam uma coloração inicialmente esverdeada, evoluindo para tons cinza-esverdeados, acompanhados de protuberâncias, denominadas urédias, que se formam na face inferior da folha.

À medida em que a infecção progride, as urédias adquirem uma coloração que varia de castanho-claro a castanho-escuro, essas urédias se abrem por meio de minúsculos poros, liberando esporos que são disseminados pelo vento (Henning et al., 2014).

Figura 2. Detalhes das lesões, pústulas contendo urédias.

A confirmação da presença da ferrugem asiática, conforme destacam Abdelnoor et al. (2021), envolve a observação na face inferior/abaxial da folha, constatando a presença de saliências que se assemelham a pequenas feridas, que correspondem à estrutura de formação do fungo, as urédias. Além da identificação, uma ferramenta importante que auxilia na avaliação da severidade dos sintomas presentes nas folhas é a escala diagramática.

A escala desenvolvida por Franceschi (2017), é composta por 10 níveis de severidade, onde os números representam o percentual (%) de área foliar afetada pelos sintomas da doença, incluindo tanto área clorótica quanto necrótica. A importância do uso da escala, conforme ressalta o autor, consiste na capacidade de aumentar a acurácia, a precisão e reprodutibilidade das avaliações de severidade da doença. Ao proporcionar uma medição quantitativa do impacto da ferrugem asiática nas folhas das plantas de soja, essa ferramenta torna-se importante para orientar a determinação de medidas de controle.

Figura 2. Escala diagramática para avaliação da severidade da ferrugem da soja.

De acordo com Seixas et al. (2020), para reduzir o risco de danos à cultura causados pela ferrugem asiática, recomenda-se a implementação de estratégias de forma integrada. Primeiramente, é essencial realizar a eliminação de plantas voluntárias de soja e adotar o vazio sanitário, um período de pelo menos 60 dias durante a entressafra, para interromper o ciclo do patógeno. O uso de cultivares resistentes é importante para reduzir a suscetibilidade da cultura ao fungo. Optar por cultivares de ciclo precoce e realizar a semeadura no início da época recomendada contribui para antecipar o ciclo da planta, evitando períodos propícios para a disseminação da doença.

O monitoramento contínuo da lavoura, desde o início do desenvolvimento da cultura, intensificando na fase de fechamento das entrelinha é fundamental. Além do emprego de fungicidas, os quais devem ser aplicados no aparecimento de sintomas ou preventivamente, de acordo com as recomendações técnicas, considerando a ocorrência da doença na região e as condições climáticas favoráveis.

Diante da identificação da presença de populações do fungo P. pachyrhizi apresentando sensibilidade reduzida aos triazóis e triazoltione, devido as recentes mutações identificadas pelo Comitê de Ação à Resistencia a Fungicidas (FRAC-BR, 2023), algumas práticas quanto ao emprego de fungicidas devem ser seguidas para evitar o desenvolvimento de casos de resistência e preservar a eficácia dos fungicidas no controle da doença. Nesse sentido, é fundamental realizar a rotação de ingredientes ativos e mecanismos de ação, realizando aplicações em associação com fungicidas multissítios para reduzir a pressão de seleção sobre as populações de fungos, minimizando os riscos de resistência. Quando a aplicação é realizada de forma preventiva, é essencial seguir rigorosamente as doses e intervalos recomendados pelos fabricantes.

Fonte: Mais Soja