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Lagartas desfolhadoras do trigo: ocorrência, danos e manejo

Épocas de estiagem prolongada e invernos mais quentes têm provocado surtos significativos de lagartas desfolhadoras em lavouras de trigo no sul do Brasil. Entretanto, esses surtos nem sempre são diagnosticados em tempo pelos agricultores, o que acaba restringindo a tomada de ações de manejo e comprometendo a produção. Diante disso, torna-se essencial conhecer a bioecologia das lagartas e sua relação com a cultura do trigo, de modo a alcançar um manejo assertivo e evitar perdas de produção. 

As principais espécies de lagartas que atacam a cultura do trigo são a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) e a lagarta-do-trigo (Mythimna sequax, anteriormente denominada Pseudaletia sequax). Existe ainda uma terceira espécie (Mythimna adultera), que também é conhecida como lagarta-do-trigo. Ambas encontram-se amplamente distribuídas pelo Brasil, mas S. frugiperda é mais polífaga, ou seja, causa danos em diversas culturas, tanto no inverno quanto no verão. Por esse motivo, é considerada uma praga de sistema, com ocorrência expressiva em áreas de plantio direto onde foi cultivado milho no verão.

Figura 1. Lagartas desfolhadoras do trigo: a) Mythimna sequax, lagarta-do-trigo (adulto); b) lagarta-do-trigo (larva); c) Spodoptera frugiperda, lagarta-militar; d) Mocis latipes, uma espécie de importância secundária.

O ciclo biológico da lagarta-militar completa-se em cerca de 30 dias, podendo estender-se até 50 dias em períodos mais frios. Destes, 15 a 25 dias correspondem à fase de larva, responsável por causar os danos à cultura. O número de gerações por ano é variável, podendo chegar a seis ou mais caso o inseto tenha condições de sobreviver durante o ano todo. O período crítico de ocorrência da lagarta-militar estende-se da emergência até o afilhamento do trigo. A distribuição das lagartas na lavoura ocorre inicialmente em reboleiras, que se expandem à medida que o ataque progride.

 A presença da lagarta-militar é inicialmente detectada na lavoura pelos sinais de raspagem e consumo do limbo foliar por lagartas pequenas (primeiro a terceiro ínstares). Além do desfolhamento, pode ocorrer também corte de plântulas rente ao solo e danos nas espigas. A redução de produtividade pode variar de 40 a 80%, dependendo da intensidade de desfolhamento e de diminuição da população de plantas.

 Já a lagarta-do-trigo possui um ciclo biológico de maior duração, variando de 41 a 57 dias. Também é uma espécie multivoltina (ou seja, apresenta mais de uma geração anual) e com grande capacidade de dispersão dos adultos, realizando voos migratórios sazonais. Seu hospedeiro preferencial é o trigo, ocorrendo desde o espigamento até a maturação e colheita da cultura. A desfolha ocasionada pelas lagartas menores não traz prejuízos significativos, podendo passar despercebida pelo agricultor. Já as lagartas maiores atacam as espigas, destruindo aristas, espiguetas e até cortando a base da mesma, resultando em perdas expressivas na produção.

O monitoramento é fundamental para a tomada de decisão quanto à necessidade de controle, devendo ser intensificado durante o estabelecimento da lavoura (no caso da lagarta-militar) e a partir do espigamento (no caso da lagarta-do-trigo). Dentre os inseticidas químicos registrados para o controle dessas espécies, destacam-se como mais eficazes as diamidas, benzoilureias e diacilhidrazinas (reguladores de crescimento), no caso de lagartas pequenas; e os carbamatos, espinosinas e pirrois (clorfenapir), no caso de lagartas grandes (ou seja, com mais de 1 cm).

 Recomenda-se realizar as pulverizações em dias nublados ou após as 18 horas, quando as lagartas estão mais ativas e expostas. Além disso, o efeito de vários desses inseticidas ocorre principalmente pela ação de ingestão; isso faz com que a eficiência de controle seja maior quando as lagartas são pequenas, pois atingem a mortalidade ao ingerir menor quantidade de ingrediente ativo, quando comparadas às lagartas grandes. Outras estratégias de manejo incluem evitar o excesso de nitrogênio (N) na adubação, que torna as plantas mais suscetíveis ao ataque de insetos; e suprir adequadamente o potássio (K), que aumenta a lignificação dos tecidos vegetais e torna-os menos atrativos para as pragas.

Fonte: Mais Soja