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Lesmas e caracóis na cultura da soja

Durante o ciclo de desenvolvimento da cultura da soja, diversas pragas podem surgir, incluindo aquelas consideradas pragas secundárias na cultura. Em determinadas safras, lesmas e caracóis podem apresentar altas populações atacando a soja, principalmente em ambientes com elevada umidade e temperaturas amenas. Lesmas e caracóis pertencem à classe Gastropoda, esses organismos demonstram-se muito sensíveis à desidratação e em períodos secos, ficam inativos enterrados no solo ou sob a camada de palha em lavouras estabelecidas por semeadura direta (Grigolli, 2015).

O sistema de plantio direto, conforme destacam Oliveira et al. (2009), favorece a incidência de algumas pragas, tais como as lesmas e caracóis. Isso ocorre devido à criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento desses organismos, especialmente durante períodos chuvosos, com a presença de umidade e a abundância de palha.

As lesmas apresentam corpo nu, medindo entre 3 e 8 cm de comprimento. Já os caracóis, possuem uma concha composta de carbonato de cálcio, de aproximadamente 1,5 cm. Ambos são considerados pragas dos grupos dos moluscos, compartilhando semelhanças em termos de biologia e comportamento (Perini et al., 2020).

Figura 1. Lesma e caracol.

De acordo com Sosa-Gómez et al. (2014), existem várias espécies de diferentes tamanhos, que são hermafroditas. Algumas espécies são capazes de realizar a autofecundação e outras não. Possuem hábito noturno e o período de maior atividade alimentar ocorre nas primeiras horas da noite. Seus ovos podem permanecer viáveis por longos períodos. Podem colocar entre 300 a mais de 1000 ovos dependendo da espécie.

As lesmas e caracóis têm potencial de causar danos significativos na cultura da soja, incluindo a destruição dos cotilédones, desfolha e, em casos mais graves até mesmo a morte das plantas. Essas pragas costumam atacar predominantemente na fase inicial de desenvolvimento da cultura, as formas jovens desses organismos alimentam-se de folhas, contribuindo para redução da área foliar (Sosa-Gómez et al., 2014). De acordo com Ávila et al. (2021), essas pragas causam danos ao raspar o tecido do caule, cotilédones e até mesmo das folhas das plântulas de soja, resultando em danos que se assemelham aos causados por insetos desfolhadores. Esses danos têm o potencial de reduzir o estande da cultura, impactando a produtividade.

Figura 2. Pragas secundárias da soja e parte da planta que atacam.

É importante notar que os caracóis podem continuar a representar uma ameaça no final do ciclo da cultura, durante a colheita, em altas populações, essas pragas podem causar problemas operacionais, como o embuchamento das colhedoras

Quando se movem sobre o solo ou planta, deixam um rastro de muco de coloração branca, sua locomoção é lenta, e tanto as lesmas quanto os caracóis são predominantemente noturnos. Entretanto, em dias com temperaturas amenas e nublados, os caracóis podem apresentar atividade durante o dia (Ávila).  Em áreas onde há infestação por lesmas, é recomendado evitar o cultivo de plantas hospedeiras preferenciais, como cucurbitáceas, leguminosas e convolvuláceas. Além disso, é importante manter as bordaduras das lavouras livres de plantas daninhas (Oliveira, 2002)

De acordo com Roggia et al. (2020), é recomendado realizar a amostragem da área de cultivo antes da semeadura da cultura da soja, verificando a cobertura de palha, locais de abrigo na superfície do solo e plantas espontâneas em vários pontos da lavoura. Os autores destacam a importância de registrar e manter o histórico dos locais infestados para avaliar se os ataques persistem nos mesmo locais ao longo dos anos, uma vez que a presença dessas pragas geralmente está associada a solos mais úmidos e maior presença de resíduos vegetais.

Embora não exista um nível de ação estabelecido com base na amostragem, é importante conhecer a densidade populacional dessas pragas e sua distribuição na lavoura para definir as estratégias de manejo. Conforme destacam Ávila et al. (2021), para o controle de lesmas e caracóis, produtos na forma de iscas à base de metaldeído demonstram-se eficientes. No entanto, esses produtos apresentam um custo elevado e não possuem registro no Ministério da Agricultura, Abastecimento e Pecuária (MAPA) para serem utilizados na cultura da soja, além de ser uma prática inviável para uso em áreas extensas.

Os autores recomendam que qualquer aplicação destinada ao controle de caramujos em soja seja realizada durante a noite, período em que essas pragas apresentam maior atividade devido às condições favoráveis de umidade e temperatura, tornando-se mais vulneráveis à ação dos produtos químicos, maximizando a efetividade das medidas de controle. Em situações de infestação elevada, com pouca ou nenhuma possibilidade de controle eficaz, uma alternativa futura seria considerar o cultivo de outra planta que não seja suscetível ao ataque dessas pragas (Roggia et al., 2020).

A dessecação prévia da cobertura representa uma medida auxiliar, essa prática proporciona redução da umidade e teor de água na superfície do solo, além de eliminar a fonte de alimento (Grigolli, 2015). Nesse sentido, essa estratégia é importante para criar um ambiente menos propicio ao desenvolvimento e à atividade dessas pragas, contribuindo para o controle da população e minimizando os potenciais danos à cultura.

Sugere-se, ainda a aplicação de soluções salinas contendo misturas de inseticidas, principalmente carbamatos, combinados com sal de cozinha ou ureia. No entanto, em condições de campo, tais aplicações não demonstram eficácia. Alguns trabalhos destacam que a mistura de abamectina com leite integral, colocada em quirera de milho, representa uma isca efetiva para o controle de caramujos na soja, no entanto, não existem produtos registrados para a cultura (Grigolli, 2015).

Fonte: Mais Soja