Notícia

Mancha alvo na cultura da soja

A incidência da mancha alvo na cultura da soja vem sendo uma preocupação, sendo o fungo Corynespora cassiicola o agente causal da doença. Nos últimos anos, o desenvolvimento dessa doença tem ganhado destaque, atribuído em parte à menor sensibilidade do fungo aos fungicidas disponíveis no mercado, resultando em resistência a alguns destes produtos. Aliado a isso, tem-se o aumento de áreas cultivadas com cultivares suscetíveis a doença (Seixas et al., 2020).

O fungo Corynespora cassiicola apresenta ampla distribuição nas regiões de cultivo da soja no Brasil, infectando mais de 400 espécies de plantas, tanto nativas quanto cultivadas. De acordo com Godoy et al. (2023), cultivares suscetíveis podem sofrer desfolha significativa, resultando em perdas de até 40% de produtividade. Conforme destacam Grigolli & Grigolli (2019), o fungo pode sobreviver em restos de cultura e sementes infectadas, sendo também, uma forma de disseminação. As condições favoráveis para que ocorra a infecção na folha, incluem alta umidade relativa do ar e temperaturas amenas.

Os sintomas da doença iniciam com pequenas manchas, circundadas por um halo amarelado, que evoluem para a formação de manchas circulares mais amplas, variando de tons de castanho-claro a castanho-escuro e alcançando diâmetros de até 2 cm. Frequentemente, essas manchas exibem uma pontuação escura no centro, parecendo-se a um alvo, em cultivares suscetíveis, a desfolha pode ser severa e acompanhada por manchas pardo-avermelhadas nas hastes e nas vagens. Além disso, o fungo também é capaz de infectar as raízes das plantas (Henning et al., 2014).

Figura 1. Sintomas de mancha alvo (Corynespora cassiicola) em soja.

O fungo também pode infectar as vagens, atingindo as semente e, dessa forma, pode ser propagado para outras áreas. Durante a ocorrência de períodos de alta umidade, as lesões podem coalescer, cobrindo toda a vagem. A infecção, na região da sutura das vagens em desenvolvimento, pode resultar em necrose, abertura das vagens e germinação ou apodrecimento dos grãos ainda verdes (Seixas et al., 2020).

De acordo com Goulart & Utiamada (2022), por se tratar de um patógeno necrotrófico, o fungo tem a capacidade de sobreviver em diversos ambientes, tais como restos culturais, plantas voluntárias, hospedeiros alternativos e sementes. Nos restos culturais, o C. casiicola pode manter-se viável na ausência de seu hospedeiro por até dois anos, essa sobrevivência prolongada mantendo o metabolismo ativo, é atribuído a atividade saprófita do fungo. Os autores destacam que a disseminação do fungo ocorre principalmente por meio do vento e das gotas de chuva, sendo esses, elementos responsáveis pela propagação da doença.

A agressividade da doença se manifesta quando a severidade de ataque é muito alta, estima-se que para provocar uma redução significativa na produtividade devido ao ataque da doença, é necessário que a severidade atinja aproximadamente 25 a 30% nas plantas de soja. Caso os níveis de severidade sejam inferiores a esses, não resultam em reduções expressivas na produtividade da cultura (Grigolli & Grigolli, 2019).

Os pesquisadores Soares et al. (2009) desenvolveram uma escala diagramática para a avaliação da severidade da mancha alvo na cultura da soja. A aplicação dessa escala não apenas resulta em maior acurácia e precisão das estimativas realizadas, mas também se destaca como uma importante ferramenta de avaliação que é fácil e rápida de ser utilizada, podendo ser utilizada para o monitoramento da mancha alvo na cultura da soja.

Figura 2. Escala diagramática para avaliação da severidade da mancha alvo da soja.

O controle de doenças provocadas por fungos necrotróficos exclusivamente por meio de fungicidas se mostra bastante limitado, somente apresentando benefícios quando utilizado de maneira complementar as demais medidas preventivas (Forcelini, 2010). Foram identificadas, para mancha alvo, populações com a presença de mutações sdh B-H278 e C-N75S, sendo que a última tem sido encontrada em altas frequências e com incremento de ocorrência. Outras mutações também foram identificadas, mas em isolados únicos como sdh B-H278R, B-I280V e D-V152. Essas mutações conferem resistência ao grupo de fungicidas das carboxamidas (SDHIs) (FRAC – BR).

A habilidade do fungo em se manter ativo em diferentes ambientes, a sua forma de propagação, bem como a menor sensibilidade do fungo ao controle químico, torna necessária a implementação de estratégias de manejo para o controle e prevenção da mancha alvo em áreas de cultivo.  Como medidas estratégicas para o manejo eficiente da doença, recomenda-se a utilização de cultivares resistentes, aplicação de tratamento de sementes, rotação e sucessão de culturas, como a cultura do milho e espécies de gramíneas, constituindo uma estratégia complementar para interromper o ciclo de vida do patógeno e reduzir sua pressão sobre a cultura da soja.

Além disso, o controle químico por meio de fungicidas representa uma ferramenta importante para o manejo da doença, sendo essencial realizar a rotação de fungicidas com diferentes mecanismos de ação, a fim de prevenir o desenvolvimento de resistência. Os pesquisadores Godoy et al. (2023), destacam a importância da adoção de estratégias antirresistência, como limitar o número de aplicações de ISDH (carboxamidas) a duas aplicações por ciclo da cultura da soja, a associação com multissítios e a rotação de modos de ação, como medida que podem retardar a seleção de populações resistentes, contribuindo assim para prolongar a vida útil dos fungicidas.

Figura 3. Esquema de manejo integrado de doenças por fungos necrotróficos em soja.

Fonte: Mais Soja