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Percevejo barriga-verde em trigo: ocorrência, danos e controle

Os percevejos barriga-verde estão crescendo em importância como pragas de sistema, ou seja, capazes de causar danos expressivos tanto nas culturas de inverno quanto de verão. No Brasil, ocorrem duas espécies: Diceraeus furcatus, com maior presença na parte subtropical do país, e Diceraeus melacanthus, que predomina nas regiões de clima mais quente. Ambas as espécies foram recentemente renomeadas, sendo anteriormente classificadas dentro do gênero Dichelops, e apresentam poucas diferenças morfológicas entre si.

O ataque dos percevejos barriga-verde no trigo pode ocorrer desde o início do ciclo da cultura até próximo à colheita, sendo o período crítico durante os estágios de emborrachamento e enchimento de grãos. Os percevejos inserem o aparelho bucal em forma de estilete no tecido vegetal para retirar nutrientes, ao mesmo tempo em que liberam enzimas e toxinas para degradar o tecido, facilitar a penetração e tornar o conteúdo liquefeito para sua alimentação. Como resultado, surgem lesões esbranquiçadas nas folhas e no caule, além de alterações fisiológicas como atrofiamento ou perfilhamento excessivo.

Figura 1. Adulto de Diceraeus furcatus (A) e Diceraeus melacanthus (B).

Os principais componentes de produtividade do trigo afetados pelo ataque de percevejos barriga-verde são o número de espigas, número de grãos e peso de grãos. Dependendo da cultivar, do estágio fenológico e da duração do ataque, os prejuízos podem chegar a 50% de redução da produtividade, que correspondem a um dano médio de 50 kg/ha para cada percevejo/m². Caso o ataque ocorra durante a fase de emborrachamento das plantas de trigo, pode resultar em espigas com 100% dos grãos vazios, devido à interrupção da translocação de nutrientes a partir do local da punctura.

O monitoramento populacional de percevejos no trigo deve ser iniciado antes mesmo da semeadura, com vistorias na palhada da cultura antecessora e em plantas daninhas remanescentes em uma área de 0,5 a 1,0 m², passando pela emergência do trigo até o estágio de alongamento do colmo. A tomada de decisão para o controle deve ser baseada no nível de dano econômico, que tornou-se cada vez mais rigoroso devido à valorização do grão de trigo. Considerando um preço de comercialização de R$ 80,00/saca, a detecção de um percevejo/m² na média das amostras já justifica o controle, independentemente do estágio de desenvolvimento da cultura.

Os principais métodos de controle são o tratamento de sementes e as pulverizações de inseticidas em parte aérea, geralmente com neonicotinoides (tiametoxam, imidacloprido, acetamiprido e dinotefuram) e piretroides (bifentrina, lambda-cialotrina, beta-ciflutrina e alfa-cipermetrina). Ingredientes ativos de outros grupos químicos, como acefato, sulfoxaflor e etiprole, são eficientes no controle de percevejos em outras culturas, mas não possuem registro para trigo. A falta de produtos com diferentes modos de ação, aliada ao número de gerações que a praga completa no trigo (dois a três ciclos por safra), pode acelerar o surgimento de populações resistentes.

Cabe ressaltar que o manejo assertivo de percevejos em trigo demanda uma atenção especial com os cultivos antecessores, inclusive plantas de cobertura, por tratar-se de uma praga polífaga capaz de sobreviver na palhada e nos restos culturais. Falhas de controle nas culturas de verão, por exemplo, resultam em insetos remanescentes no inverno, assim como o menor número de aplicações de inseticidas em áreas cultivadas com culturas Bt. Por fim, a importância dada pelos produtores aos percevejos em trigo é tradicionalmente menor do que em outras culturas, como soja e milho, o que acaba beneficiando a praga e aumentando os prejuízos. Portanto, o monitoramento constante é essencial.

Fonte: Mais Soja