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Práticas de manejo para minimizar perdas por enfezamento em milho

Você sabe qual a causa, e o que podemos fazer para amenizar as perdas por enfezamento? Neste artigo vamos explicar o que é enfezamento, quais são seus sintomas, quem é o vetor, e quais as práticas de manejo indicadas para minimizar as perdas na cultura do milho. Acompanhe!

Causas dos enfezamentos

Os enfezamentos do milho são causados por uma classe de bactérias que se distinguem das demais pela ausência de parede celular e, por isso, são denominadas Mollicutes. Mollicutes são parasitas de animais e plantas que vivem dentro das células do hospedeiro.

Quando temos a ocorrência da doença, é comum observamos diferentes sintomas, relacionados tanto ao Enfezamento Pálido (Spiroplasma kunkelii) quanto ao Enfezamento Vermelho (Maize bush stunt phytoplasma).

Porém, além do mollicutes, em uma planta enfezada, também pode ser observada a presença do Vírus da Risca – MRFV (Maize raiado fino virus), e é por isso que nos referimos a doença como Complexo de Enfezamento.

Sintomas dos Enfezamentos

Os sintomas de Enfezamento Vermelho – como o nome já diz – são o avermelhamento a partir das margens e do ápice das folhas, seguido por seca. Já o Enfezamento Pálido, apresenta estrias cloróticas localizadas, principalmente, na base das folhas. É comum encontrar a campo plantas com os dois sintomas de enfezamento.

Sintomas do Vírus da Risca, se caracterizam por lesões na forma de pequenos pontos cloróticos alinhados, acompanhado de menor desenvolvimento e porte da planta. É possível observarmos lavouras infectadas com o Vírus da Risca apenas com uma das doenças, ou com todas ao mesmo tempo – Enfezamentos Vermelho e Pálido + Vírus da Risca.

Pela multiplicação do patógeno se dar de forma sistêmica na planta, ocorre uma alteração nos vasos condutores, células companheiras e parênquimas do floema, o que causa desregulação no comportamento da planta. O fechamento estomatal induzido pelo fitoplasma também é fator para o desenvolvimento dos sintomas, pois altera a troca gasosa e outros processos relacionados, como movimento hídrico e fotossíntese na planta. Por isso, danos como multiespigamentosecamento prematuro da plantaredução do porte da espigachochamento dos grãos e tombamento de plantas  também podem ser observados como consequências de lavouras enfezadas.

tombamento de plantas é mais aparente após o florescimento, quando o metabolismo da planta acelera devido a migração da energia acumulada na planta para a espiga. Como efeito secundário, é comum ocorrer a infecção de fungos do solo como Pythium Fusarium. Os sintomas podem variar de acordo com a sensibilidade do material e pelo estádio de infecção. Sabemos que, quanto mais cedo a planta for infectada, maior será o dano. Isso porque teremos um maior tempo de multiplicação do patógeno dentro da planta.

Mas quem é o vetor responsável pela transmissão do complexo de enfezamentos até a planta?

A doença está diretamente relacionada com a cigarrinha do milho Dalbulus maidis. São insetos bastante ágeis, abandonando a planta ao menor distúrbio. Geralmente se encontram no cartucho das plantas de milho, em número variável, dependendo da idade da planta e época do ano. A reprodução da cigarrinha depende exclusivamente da cultura do milho, sendo incapaz de completar seu ciclo biológico em outras culturas. E a reprodução dos mollicutes, é dependente deste inseto para se multiplicar. Desta forma, regiões onde não há milho, não haverá vetor se reproduzindo e, consequentemente, o problema do enfezamento está eliminado.

Seu desenvolvimento sofre influência direta da temperatura ambiente, pois quanto maior é a temperatura, mais rápido a cigarrinha completa seu ciclo e, deste modo, mais gerações do vetor surgem em uma mesma janela de plantio. Além disso, as condições ambientais também fazem com que os mollicutes se multipliquem mais rápido dentro do hospedeiro (seja ele a cigarrinha ou o milho), acelerando a capacidade de virulência. Quando a temperatura é inferior a 27°C (dia) e 18°C (noite), a velocidade de multiplicação da bactéria é reduzida. Em uma temperatura média de 26°C, o ciclo de vida da cigarrinha é entre 23 e 27 dias. A praga realiza postura endofítica (dentro do limbo foliar) cujo período de encubação é de 8 a 10 dias, e o estádio de ninfa é de 14 a 16 dias.

Quando temos temperaturas abaixo de 20°C, não há eclosão de ovos e, quando eclodidos, mesmo provenientes de insetos contendo mollicutes, a futura geração nasce livre da doença. Esta é uma observação importante para o manejo da doença, pois para uma nova infecção, há necessidade do vetor adquirir o patógeno a partir de uma planta infectada. É por isso que eliminar plantas de milho voluntárias que atuam como fonte de inóculo é fundamental para o cultivo de lavouras livres do patógeno.

O que chamamos de “picada de prova”, não é suficiente para transmitir o complexo de enfezamentos para a cultura e praticamente não causa danos. Por isso, há uma necessidade mínima de tempo de alimentação do vetor para aquisição da doença. O período de latência é o tempo que leva entre a aquisição do inseto e o início da transmissão do patógeno pelo vetor. A inoculação é o tempo mínimo que a cigarrinha precisa se alimentar para transmitir a doença à cultura do milho. E retenção, período médio em que o vetor é capaz de reter o mollicutes, causando novas infecções.

Quais são as alternativas de controle para o complexo de enfezamentos?

Em primeiro lugar: ações pontuais ou isoladas não resolvem o problema. A única forma eficaz de controle do complexo de enfezamentos é através do manejo integrado.

É necessário fazer um manejo em nível ecológico (população do vetor e mollicute) e regional.

Neste artigo trouxemos 5 importantes recomendações. São elas:

  1. Eliminação de milho voluntário
  2. Sincronização de plantio
  3. Tolerância genética
  4. Uso de Tratamento de Sementes Industrial
  5. Aplicação de inseticidas para controle do vetor

1. Eliminação de milho voluntário

Sem dúvidas, entre todas as práticas, a eliminação de milho voluntário é a primeira e mais importante estratégia de controle. É comum observar nas regiões agrícolas grandes quantidades de milho voluntário na entressafra e nos cultivos subsequentes. Desta forma, em áreas com potencial de incidência de enfezamentos, a prática de eliminação do milho voluntário, é fundamental para o controle da doença. No entanto, todas as ferramentas disponíveis devem ser utilizadas, iniciando pela regulagem dos equipamentos de colheita (minimizando as perdas), uso de herbicidas pré e pós-emergentes para controle de diferentes fluxos de germinação, etc.

2. Sincronização de plantio

Em determinadas regiões onde não há vazio sanitário determinado pela condição de plantio durante todo o ano (pivots de áreas de semente, áreas de silagem, regiões produtoras de milho verão e milho safrinha, etc.), existem populações de cigarrinha já estabelecidas e infectadas por mollicutes, que estão aptas para novas infestações.

Nessas situações, especialmente nas áreas de safrinha, os primeiros plantios de milho sofrem um efeito de concentração desses insetos infectados, ocasionando alta pressão da doença. Há uma preferência alimentar da cigarrinha por plantas jovens de milho, para se alimentar e realizar posturas.

A migração e mobilidade do vetor faz com que ocorra dispersão na medida em que a semeadura avança no restante das áreas da região, diminuindo os danos observados nas lavouras subsequentes. Nesses casos, a sincronização de plantio com a maioria da região pode ajudar a escapar da maior pressão da doença. Em outras palavras, quanto menor a janela de plantio (mais sincronizados), mais diluída será a pressão do vetor e menores serão os danos observados. Essa informação é importante para o posicionamento de híbridos e uma estratégia de manejo bastante interessante.

Já em regiões com um vazio de milho determinado, tal cenário pode se inverter, uma vez que nessas situações, os primeiros plantios escapam da maior pressão de cigarrinhas infectadas, e a quantidade do vetor é muito baixa. Assim como a carga de mollicutes, na medida que avançam os fluxos de plantios, a multiplicação do vetor e do patógeno aumenta, inviabilizando os plantios mais tardios, pela alta incidência de enfezamentos.

3. Tolerância genética

Existem grandes diferenças de sensibilidade entre híbridos, entretanto, não podemos atribuir à tolerância genética o título de principal método de controle da doença. Isso porque, dependendo da infestação, tempo de alimentação das cigarrinhas e da carga dos mollicutes, um híbrido que resistiu bem à pressão da doença numa determinada safra, pode não resistir a uma pressão maior da doença no ano seguinte – caso não se aplique o manejo integrado em nível regional.

Pensando na tolerância, do ponto de vista fitopatológico, significa que a planta possui o complexo de enfezamento, mas pode expressar poucos sintomas e/ou menor queda de produtividade, mesmo assim, ela continua reproduzindo em seu interior os mollicutes que servirão para infectar futuros fluxos de cigarrinha do milho, aumentando o inóculo regional.

4. Uso de Tratamento de Sementes Industrial (TSI)

O TSI é ferramenta fundamental no controle da doença pois protege a planta no período inicial de desenvolvimento. Quanto mais cedo ocorre a infecção da planta, maiores são os danos pelo enfezamento, devido ao maior período de multiplicação dos patógenos nos tecidos da planta.

Assim, o uso de neonicotinóides no TSI protege a planta até, aproximadamente, V3, tornando-se uma importante ferramenta dentro do manejo integrado da doença.

O TSI tem um efeito maior em condições onde as demais práticas de manejo também são adotadas, pois dessa maneira há uma redução da população do vetor.

5. Aplicação de inseticidas para controle do vetor

A aplicação de inseticidas é uma ferramenta complementar que, sob alta pressão de inóculo tem pouco efeito, portanto, é ineficaz se não for feito uso das demais ferramentas de manejo – fundamentais para diminuir o inóculo da doença.

Quanto mais tempo conseguirmos postergar a entrada do vetor em nossas lavouras, maior será o sucesso. Por isso, o período crítico de controle da cigarrinha em um campo de milho vai de VE até V10. Esse é o período mais importante de proteção da lavoura, pois se ocorrer a infecção, os danos serão mais significativos.

Em relação a produtos que podem ser aplicados, atualmente existem vários princípios utilizados para controle de sugadores na cultura do milho para o controle da cigarrinha, porém, o mais importante é monitorar a praga para determinar a frequência de aplicação.

Para serem efetivas as aplicações é necessário que tenham um bom efeito de choque, pois o tempo necessário para uma cigarrinha infectada inocular os mollicutes numa planta de milho sadia, como já vimos, é curto (+ou-1 hora).

O desafio está na falta de residual desses produtos, já que nos estádios iniciais, uma planta de milho expande uma nova folha a cada 2 ou 3 dias e a mobilidade do inseto vetor é alta, sendo que novas revoadas podem acontecer no intervalo uma aplicação e outra.

 

Fonte: Pioneer Sementes