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Tamanduá-da-soja: danos, ocorrência e controle

Com a semeadura da safra 2023/24 em andamento e muitas áreas já estabelecidas, cresce a preocupação dos sojicultores em relação ao monitoramento e manejo adequado das pragas de início de ciclo. Também denominadas pragas primárias, essas espécies podem atacar as sementes, plântulas e plantas de soja em início de desenvolvimento, quando a cultura se encontra altamente sensível e com pouca área foliar. Na semana passada, abordamos em detalhes a bioecologia e o manejo da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus). Hoje, trataremos de outra importante praga primária: o tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus).

Ocorrência e bioecologia

Também conhecido como bicudo-da-soja ou cascudo-da-soja, o tamanduá-da-soja é nativo do Brasil, com predominância na região do Sul do país. Registrada pela primeira vez no Rio Grande do Sul em 1973, a espécie ganhou importância na década de 90, com a ampla adoção do sistema plantio direto. Embora o uso difundido do tratamento de sementes tenha reduzido sua ocorrência, ainda se verificam surtos localizados que se repetem anualmente, devido ao ciclo anual da praga.

Os adultos de S. subsignatus são gorgulhos com coloração preta e faixas amarelas no dorso. Os ovos são depositados na haste principal das plantas de soja, ficando protegidos com fibras de tecido vegetal cortado e desfiado pela fêmea adulta. As larvas emergem dos ovos após cerca de 11 dias, sendo cilíndricas e curvadas (curculioniformes), de cor branco-amarelada e desprovidas de pernas (ápodas). Após passar por cinco ínstares larvais na haste da planta (25 a 44 dias), a larva migra para o solo e entra na condição de larva hibernante, permanecendo por mais de 250 dias no interior de câmaras situadas entre 5 e 25 cm de profundidade.

As larvas hibernantes não se alimentam, mas podem se movimentar quando expostas ao sol (fototropismo negativo). A fase de pupa também ocorre no interior de câmaras no solo, durando de 14 a 17 dias e apresentando aspecto branco-amarelado. Os adultos possuem longevidade de 63 a 119 dias, sendo que cada fêmea pode ovipositar até 290 ovos.

Sintomas e danos

O macho adulto se alimenta do caule e desfia os tecidos da epiderme no sentido longitudinal, enquanto a fêmea realiza o anelamento da haste principal para ovipositar. Quando o ataque ocorre na fase inicial da cultura (V2 a V6), mesmo em baixas populações (2 a 4 adultos/m²), pode ocorrer ruptura do caule, interrupção da circulação de seiva e morte de plantas. Já em ataques mais tardios, ocorre a formação de galhas no local de crescimento das larvas, levando à quebra e acamamento das plantas pela ação do vento e pelo peso das mesmas.

Durante o dia, os adultos são encontrados nas folhas do terço inferior das plantas de soja ou sob os restos culturais, movimentando-se para as partes mais altas durante a noite para acasalar-se. Já os ovos e as larvas ficam localizados geralmente na parte média da haste principal, entre o quinto e o sexto entrenó. Dificilmente observa-se mais do que uma larva por galha; quando isso ocorre, elas são separadas por restos de tecido vegetal.

Controle

O tamanduá-da-soja desenvolveu um forte sincronismo com a cultura da soja, ocorrendo uma geração do inseto por ano e repetindo a infestação ao longo dos anos, na mesma área. Na região Sul do Brasil, os primeiros adultos surgem a partir de novembro, assim como os primeiros ovos; já a hibernação das larvas ocorre a partir de fevereiro. Como essa praga se alimenta exclusivamente de algumas espécies de leguminosas, a rotação de culturas com milho, sorgo ou outras plantas não hospedeiras é eficiente no seu manejo. A semeadura tardia ajuda a evitar as primeiras emergências do inseto, mas com o passar do tempo a espécie se adapta às variações e sincroniza novamente sua emergência à cultura da soja.

Atualmente, há 72 inseticidas químicos registrados para o controle de tamanduá-da-soja no Brasil, sendo a maioria formulada à base de fipronil (fenilpirazol) e indicados para aplicação via tratamento de sementes. Também há registros de ciantraniliprole (diamida antranílica), tiametoxam, tiacloprido e clotianidina (neonicotinoides), todos para tratamento de sementes; e de acefato (organofosforado) e zeta-cipermetrina (piretroides) para pulverização foliar. Nesse caso, são recomendadas aplicações noturnas, quando os adultos apresentam maior atividade. Entretanto, a eficácia das pulverizações foliares pode ser reduzida pela emergência contínua do inseto, devendo-se atentar para o efeito residual dos inseticidas utilizados.

Fonte: Mais Soja